“se você não tolerar o mediano, isso vai criando em você uma cultura de alto desempenho”
Dizem que o nome dado a uma criança é uma sentença para a vida, que o nome carrega traços de personalidade e até mesmo um vislumbre de como a pessoa vai ser no futuro. Afinal, você conhece dois tipos de Camila?... Essa matéria em nada tem a ver com coisas místicas e muito menos com o caráter pré-ordenado das coisas, tem a ver com Silvinho Iwata, um jovem grande em estatura e também em presença de espírito, cujo nome já carrega o termo “imobiliária” muito antes de ele entender o que é estar no mundo.
Destinado a um nome naturalmente associado ao mercado imobiliário, Silvinho quebrou convenções por diversas vezes ao trilhar caminhos que, à primeira vista, o distanciavam desse setor. Ele já passou no concurso da Polícia Militar para trabalhar como bombeiro; entrou em um programa da Guarda Vidas Civil para trabalhar como salva vidas no litoral paranaense em uma operação de verão; já fez um curso completo de mecânica de automóveis; e já esbarrou na carreira de atleta profissional como nadador e como triatleta. Mas a vocação fala mais alto e a mãe natureza é muito persuasiva, ela concebeu Silvinho Iwata com um dos traços que melhor define sua identidade: a competitividade e a capacidade de alcançar objetivos traçados, mantras que ele canaliza até hoje para o esporte, mas que foram o verdadeiro motivo pelo qual seu coração e mente se voltaram para o empreendedorismo herdado do pai.
Formado em Direito e atualmente sócio na Imobiliária Silvio Iwata, Silvinho, como é conhecido por todos, tem um escritório de advocacia especializado em gestão de patrimônio familiar, é sócio em uma indústria moveleira, tem uma empresa de desenvolvimento imobiliário voltado para a implantação de marcas legais em cidades pequenas, tem uma construtora de imóveis exclusivamente para locação, é sócio no Maringá Futebol Clube e, mais recentemente, materializou uma empresa idealizada por seu pai há mais de 28 anos: a Silvio Iwata Prime, hoje com loja no Shopping Maringá Park e com expectativa de breve lançamento na Av. Gastão Vidigal de Maringá.
Para a WIT Silvinho falou de tudo e também de nada, em um papo sobre seus livros, viagens, esporte, profissão e natureza, um papo que para nós serviu como uma injeção de entusiasmo para viver nossas próprias convicções sem pedir desculpas, e encarar a vida do jeito que ela é, porque o bom e o ruim não são definitivos, mas a vontade de vencer, essa sim pode ser eterna. Com vocês, Silvinho Iwata.
[WIT] Você já nasceu dentro do mercado de imóveis. Mas e o esporte também entrou na sua vida através de seus pais?
[SI] De certa forma sim. Meu pai e minha mãe são triatletas. Meu pai foi nadador profissional do Pinheiros, o mesmo clube que lançou nomes importantíssimos da natação, como o César Cielo, e meu pai é um japonês totalmente fora do estereótipo de nadador, com 1,68m de altura. Meu pai fez Ironman com bicicleta de ferro… Na minha infância eu nadei muito, treinava pra valer por horas todos os dias, eu só saí da natação quando chegou aquele momento de decidir se eu seria um nadador profissional ou não.
[WIT] Mesmo tendo escolhido não se profissionalizar, depois você acumulou títulos importantes no esporte. Você segue uma rotina regular de treino?
[SI] A diferença entre o atleta profissional e o amador de alta performance é o descanso. Enquanto eu tô trabalhando, os caras estão descansando [risos]. Minha decisão foi de não me profissionalizar, porém, como triatleta, participei de competições importantes de triathlon e eu peguei pódio nas duas últimas competições de ciclismo em Maringá na Copa Canção, no 5º e 3º lugar. Um divisor de águas na minha trajetória pelo esporte foi a oportunidade de competir em São Paulo na prova Troféu Brasil de Triathlon em 15 de maio de 2016. Eu tinha montado uma estratégia para essa prova que tinha todas as chances do mundo de dar errado, porque eu contava apenas com minha habilidade na natação. Para o percurso de bike eu estava com uma bicicleta bem específica e contava com um clima sem vento para performar bem. Já na corrida eu sou desgraçado [risos], tenho 100 kg, simplesmente sou péssimo corredor. Mas neste dia tudo deu certo, eu saí em primeiro lugar da água, fiz uma bike alucinante porque estava sem nenhum vento e dei meu melhor na corrida. Neste dia eu ganhei a prova, dei entrevista para a imprensa, fui procurado por muita gente, foi uma experiência inesquecível. Depois eu também competi na Copa Brasil de Triathlon e consegui me classificar para o mundial de Fast Triathlon que foi cancelado no Canadá devido à pandemia.
[WIT] Toda essa rotina de treino e preparação aconteceu em paralelo com sua vida profissional?
[SI] Sim, nunca deixei de trabalhar. O segredo para coordenar a vida empresarial e o esporte é o planejamento. Eu acordo muito cedo para treinar, trabalho a manhã toda, treino novamente na hora do almoço, volto pro escritório e muitas vezes treino a noite também. É definitivamente um hábito. Se não fosse o hábito e a disciplina eu não estaria no triathlon há 12 anos. Todas as noites eu preparo 100% do meu dia seguinte: a bolsa da corrida pela manhã, a roupa do trabalho, a bolsa do treino do almoço e a bolsa do treino da noite. Eu tenho um check list de cada uma das bolsas para não esquecer de nenhum equipamento, porque no espaço curto de tempo que tenho para treinar, voltar pra casa para buscar alguma coisa que ficou para trás pode custar o treino todo.
[WIT] Mas o que te motiva a manter essa rotina extenuante?
[SI] Eu só consigo trabalhar em alto desempenho porque eu treino no alto rendimento. Esse é meu equilíbrio. Uma coisa que você aprende como atleta é que tem dias bons e tem dias ruins, tem dias que você tá cansado, tem dias que você tá empolgado, com energia, sem energia… não importa, você continua treinando, continua fazendo… Você acaba levando isso pra vida, mesmo com as intempéries que acontecem no dia a dia, a gente não pode parar. Triathlon é renúncia, é acordar cedo, desconforto, dieta, disciplina. Tem uma frase de Roosevelt que eu gosto muito: ‘na vida a gente vai cansar ou enferrujar’, eu escolho cansar.
[WIT] Com uma rotina assim tão acirrada, você se considera uma pessoa cartesiana?
[SI] Por causa do esporte eu acho que sou um cara muito metódico, eu não sou totalmente regrado, mas eu preciso fracionar minha vida em caixas, ou categorias, que são três: o que é planejamento, o que é rotina e o que é correção. Planejamento é o que preciso fazer, se um elo quebra ferra a rotina, então o que deu errado eu vou lá e corrijo.
[WIT] Quando um elo desse se quebra, você lida bem com isso?
[SI] Eu me acabo [kkkkkkk]. Na verdade eu não me incomodo quando são coisas grandiosas, grandes desvios de rota, mas quando são detalhes pequenos que escapam do que eu tinha planejado eu tenho mais dificuldade para contornar, mas estou tentando retificar isso. Gosto muito de um autor chamado Ryan Holiday que diz ‘o obstáculo é o caminho’.
[WIT] Você associa isso a um crescimento pessoal?
[SI] Todos os dias temos oportunidade de ser melhor do que fomos ontem, não é mesmo? Olha só essa lição de vida dada por Thiago Vinhal, um dos maiores triatletas profissionais do Brasil, em entrevista logo após uma prova do Ironman. O repórter perguntou: ‘você acha que tem sucesso?’, ele respondeu: ‘sucesso pra mim é progresso, se eu dormir a noite e estiver mais próximo do meu objetivo, estou tendo sucesso’. Outra verdade que eu acredito é que se você não tolerar o mediano, isso vai criando em você uma cultura de alto desempenho. Com certeza tem situações que você tem que tolerar, mas se você tolerar todos os dias você vai fazer parte da mediocridade. Isso me faz lembrar também de uma frase de Nietzsche: ‘se te apetecer fugir, fuja!’, porque o mundo vai tentar te dissuadir de viver seus sabores, de seguir seus sonhos…
[WIT] Com relação ao mundo empresarial, pra você sempre foi certo que seguiria esse caminho?
[SI] Na verdade não. Eu já flertei com todo tipo de carreira possível. Quando decidi que não seria um atleta profissional o primeiro pensamento que me veio à mente foi trabalhar com mecânica automotiva, que é até hoje uma das minhas grandes paixões. Acabei entrando e me formando em Direito porque na minha cabeça, para iniciar uma vida profissional eu precisava entender a regra do jogo, e me falaram que o direito me daria essas bases e eu fui. Passei na OAB de primeira, porque prova pra mim nada mais é do que competição, e eu sou naturalmente competitivo. Tem gente que treina porque gosta de treinar, eu treino porque gosto de competir. Eu amo aquele sentimento de acordar no dia da prova, aquela expectativa, aquele entusiasmo… Com isso eu percebi que poderia me encaixar bem no universo empresarial, que é um mundo naturalmente competitivo, de metas, de conquista, de alcançar ativos…
[WIT] Vemos nas redes sociais que você valoriza muito o design autoral. Você tem também um pé na arte?
[SI] Bem… Minha professora de piano disse certa vez para minha mãe que existem três tipos de alunos, os que são bons, os que não são bons mas se esforçam, e uma terceira categoria onde se encaixava seu filho, no caso eu [risos]. Eu sou péssimo em música, só sei tocar campainha e tocar cachorro [kkkkkkk], mas minha família inteira tem um pezinho na arte. Minha mãe faz pintura e escultura, tenho um irmão médico que tem uma vibe bem naturalista, que ama plantas e a natureza; minha irmã se formou em ballet. Mas eu sempre fui muito prático e voltado para atividades de esforço e intensidade. Chegou um momento do meu trabalho em que eu precisava apurar meu senso estético para ambientar apartamentos decorados, foi quando eu tive a ideia de estudar fotografia, porque fotografia é totalmente física. Mas quando eu já estava em fase bem avançada do curso e tinha entendido toda a física da fotografia o professor diz que na fotografia 10% é técnica e 90% é inspiração. Dai pensei: ‘ferrou’. Foi quando comecei a buscar inspirações e referências em mostras de arte e decoração, museus, obras de arte, e foi assim que acabei entendendo um pouco melhor esse universo da decoração, a ponto de hoje eu ser sócio também em uma indústria de móveis.
[WIT] E como falar de Silvinho sem falar da Holandesa, o Troller cor de abóbora que conquistou milhares de seguidores no Instagram. Como aconteceu isso?
[SI] Isso é muito louco e inusitado, até hoje eu não acredito que a Troller me convidou para visitar a fábrica, junto de pilotos importantes, por causa da repercussão desse perfil que criei para meu jipe, que na verdade funciona mais como um diário de bordo das aventuras off-road que fazemos juntos.
[WIT] Com ou se jipe, fala de uma viagem que para você foi marcante.
[SI] A Amazônia, onde já estive duas vezes, é com certeza fora do comum. Parece outro planeta. Não existe civilização nem próxima do que a gente vê por aqui, é um ambiente hostil de se estar, mesmo quando acompanhado dos ‘mateiros’, como são chamados os guias locais. Na última vez fui com um amigo que tinha um compromisso no Pará, muito próximo da Amazônia, então aproveitamos a viagem para fazer um acampamento de 2 semanas na floresta. Éramos nós e mais dois mateiros. A primeira instrução que recebemos foi ‘não toca em nada, até as plantas podem ser venenosas’. Parece bobagem, mas às vezes o que você acha que é um cipó pode ser uma colônia de formigas venenosas, e o hospital mais próximo pode ficar a dias de distância. Sobre as onças ele foi bem claro: ‘fica tranquilo, se você ver uma onça é porque ela deixou que você a visse. Não adianta correr, ela é mais rápida. Não adianta subir em árvore, ela sobe também, não adianta entrar no rio porque ela nada’.
[WIT] E você vai me convencer de que não ficou com medo? [risos]
[SI] Cara, eu sou bípede, não faço parte da cadeia alimentar dela, então eu acredito sim que se eu não incomodá-la, ela não vai me atacar. Você vai achar pretensão da minha parte, mas teve um dia que chegamos no acampamento e tinha 2 onças rondando a caça que deixamos pendurada. Se você me conhecesse, saberia que sempre tive uma ligação espontânea com os bichos. Em um parque estadual na Bolívia duas araras pousaram do nada na minha bolsa. Nos Estados Unidos a gente estava em família acampando de trailer pela Califórnia quando um esquilo veio espontaneamente e se sentou do meu lado. E na semana passada quando cheguei no apartamento, um gavião enorme estava pousado no parapeito da sacada e ficou lá por pelo menos 10 minutos. Eu não sei o que é isso, mas acredito firmemente que se você trata bem a natureza, de alguma forma ela te devolve.
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