Celebrando 40 anos de atuação e mais de 200 edifícios presentes no skyline de Maringá com sua assinatura, o arquiteto José Carlos Mendes Cardoso, da Mendes Cardoso Arquitetura, abre as portas para a WIT e revela um universo fascinante de edificações verticais aclamadas pelo público e pela mídia especializada, marcos arquitetônicos que são verdadeiros cases de sucesso no mercado imobiliário
TEXTO VINÍCIUS LIMA
FOTO HUELBERTI FRANCO
O pioneirismo de José Carlos Mendes Cardoso, ou simplesmente Mendes Cardoso, como é conhecido, parece não ter fim. Aluno da primeira turma de Arquitetura na Universidade Estadual de Londrina; professor da primeira turma de Arquitetura na Universidade Estadual de Maringá – onde leciona até hoje, desde os anos 2000 –; autor do icônico edifício Royal Garden, erigido em 1988 em plena Av. Tiradentes e que mantém até hoje o status de maior edifício de Maringá, tendo sido durante muitos anos o maior do sul do país, com 28 mil m² de área construída, 41 pavimentos e 35 apartamentos; Mendes Cardoso também foi o primeiro arquiteto a projetar um edifício com a tecnologia de fachada ventilada em Maringá e região por meio do edifício Sunset Plaza, concluído em fevereiro de 2018 na Av. XV de Novembro, até hoje o que há de melhor em conforto térmico e eficiência energética para fachadas de edifícios, uma tecnologia largamente difundida em países desenvolvidos. É dele também o primeiro shopping center de Balneário Camboriú, sim, o Atlântico, que integra shopping e duas torres residenciais no mesmo complexo.
Ao celebrar os 40 anos de seu escritório, Mendes Cardoso, que já possui mais de 200 edifícios com sua assinatura no skyline da cidade, demonstra sua capacidade de manter-se alinhado às tendências contemporâneas por meio de uma atuação plenamente ativa no mercado imobiliário atual. Tomamos como exemplo o Duo Living Complex, recentemente lançado pela Construtora Catamarã como o primeiro vertical do Jd. Monções e que entrou para o portfólio da Mendes Cardoso como um dos edifícios mais arrojados da sua carreira. “Eu costumo dizer que a gente não se especializou em edifícios, a gente se especializou em espetáculos”, brinca Mendes Cardoso para o riso de todos os presentes.
De fato, projetos elaborados, de grande apelo visual e que chamam a atenção são uma tendência natural no traço de Mendes Cardoso. Todavia, ele é taxativo ao dizer que muito mais importante do que uma arquitetura autoral, sua arquitetura é de resultados. “Como agentes do mercado imobiliário para construtoras, precisamos desenvolver projetos que sejam produtos que gerem resultados econômicos muito bons… Claro que podemos criar tendências de uso e imprimir nosso traço de uma ou outra forma, mas via de regra precisamos criar apartamentos que vendam”, explica Mendes Cardoso.
A vocação de Mendes Cardoso para gerar negócios lucrativos começou, também, muito cedo. Voltando ao exemplo do edifício Royal Garden, projetado pelo arquiteto quando este tinha apenas 26 anos de idade, o prédio teve seus 35 apartamentos vendidos em menos de 48 horas, um recorde na época, um case de sucesso para a Construtora Garça que foi parar até nos jornais. “Qual o segredo para tamanho sucesso”, perguntamos para ele. “Sempre foi projetar edifícios desejáveis desde a planta até as áreas de lazer, sempre atentos a tendências de uso atuais e futuras”, explica.
UM SONHO DE MENINO
Da sua memória de infância, uma das mais vivas na mente de Mendes Cardoso era sua vocação para desenhos. Filho de Antônio Martins Cardoso e Maria Luiza de Jesus Mendes, em uma família de 3 filhos, Mendes Cardoso tinha como principal hobby o desenho à mão livre. Ele amava fazer suas próprias histórias em quadrinhos, HQs de heróis, de cowboys e afins… Da vocação para o desenho surgiu o desejo de fazer arquitetura, um curso que não existia no interior do Paraná. Para ele, maringaense, a opção foi entrar na concorrência para ingressar na Federal de Curitiba ou na Federal de Florianópolis, mas acabou não passando. A oportunidade surgiu quando, em 1979, a Universidade Estadual de Londrina abriu o curso de arquitetura, onde Mendes Cardoso passou no vestibular e se tornou calouro da primeira turma.
Na ocasião, ele já estava no primeiro ano do curso de Engenharia Civil na UEM, mas não teve dúvidas em trancar o curso e seguir seu sonho em Londrina, onde morou durante os 5 anos do curso. “Assim que terminei o curso eu já voltei para Maringá e estabeleci meu escritório, porque Londrina já tinha muitos bons arquitetos atuando em arquitetura vertical, mas Maringá carecia muito dessa especialidade”.
Sim, Mendes Cardoso já saiu das cadeiras da universidade convicto de que sua carreira seria pautada na arquitetura de grandes edifícios. Isso porque durante seu período acadêmico estagiou para o renomado arquiteto Júlio Ribeiro. Nascido em Portugal e radicado no Brasil desde os 7 anos de idade, Júlio formou-se arquiteto na Universidade Federal do Paraná em 1972 e estabeleceu seu escritório em Londrina, onde executou mais de 600 projetos antes de, aos 47 anos, morrer em um trágico acidente automobilístico. “Júlio foi um fenômeno, ele introduziu novos conceitos de utilização do espaço e executou projetos no país todo, foi uma escola maravilhosa que me fez amar o mercado imobiliário”, relembra Mendes Cardoso.
Inaugurado em agosto de 1984 em Maringá, o escritório de Mendes Cardoso foi “arquitetado” paralelamente ao seu trabalho de conclusão de curso. Junto de Francisco José Peralta, seu sócio na época, estabeleceu sua primeira sede no Edifício Três Marias. “As visitas às construtoras, para apresentar nosso trabalho, eram feitas com a coragem de dois jovens que não tinham nada no portfólio além da experiência de ter estagiado em um escritório de grande renome”.
Um dos seus primeiros trabalhos foi o aclamado edifício Royal Garden, um ícone que mantém sua atemporalidade e valor de mercado até hoje. Na época em que foi projetado o mundo estava saindo do modernismo tradicional e do brutalismo largamente difundido no Brasil desde a década de 20, para entrar em uma era pós-moderna que deu origem a edifícios de uma arquitetura leve e divertida, com adornos e formas bem diferentes da arquitetura vivenciada hoje em dia.
Sobre as tendências atuais e futuras, Mendes Cardoso explica que estamos ingressando em uma espécie de retorno ao formalismo, apresentando edifícios com curvas orgânicas, entrelaçadas com conceitos de biofilia e sustentabilidade.
“Como atuamos basicamente para o mercado imobiliário, as construtoras nos buscam para resolver problemas, ou seja, criar produtos que vendam, por isso não tenho um estilo extremamente rígido e definido, eu diria que é uma arquitetura contemporânea sem se restringir ao estilo, mas sigo uma linha de pensamento sempre aliado a tendências de uso e formas que geralmente antecipam demandas futuras”, declara Mendes Cardoso.
Outro aspecto que Mendes Cardoso destaca de seu trabalho são as plantas de apartamento. “Modéstia à parte, somos muito bons em criar plantas que vendem muito bem, por sua funcionalidade, racionalidade e divisões de espaços que valorizam o metro quadrado”. Não é à toa que dos 7 edifícios do mercado de luxo de Maringá, ranqueados pelo portal Maringá Post, 3 foram assinados pela equipe Mendes Cardoso Arquitetura, e as duas de maior área privativas também são dele.
Com milhares de metros quadrados edificados em Maringá e outras cidades do país, a equipe Mendes Cardoso Arquitetura sempre manteve-se enxuta e concisa.
Hoje com 8 profissionais no time, José Carlos Mendes Cardoso explica que o segredo é manter um quadro de profissionais extremamente capacitado. Da sua sala de reunião, um aquário de vidro com vista panorâmica para os arquitetos do seu time, ele declara: “estes que vocês veem são os melhores no que fazem, e nosso negócio é projetar edifícios emblemáticos, ícones em todos os tempos”, conclui Mendes Cardoso.
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