A arquiteta Sumara Bottazzari, embora tenha estabelecido seu escritório em Curitiba, é autora de centenas de projetos executados em diversas regiões do Brasil, isto inclui Maringá, cidade onde possui vínculos familiares e pela qual desenvolveu grande carinho! Com formação em desenho industrial (1988) e arquitetura e urbanismo (2013) Sumara desenvolveu importantes projetos junto a grandes empresas multinacionais como Incepa (suíça) e Porcelanosa (Espanhola), ambas do setor de revestimentos cerâmicos. Há 21 anos decidiu abrir seu próprio escritório e hoje conta com um vasto know-how em projetos arquitetônicos e de interiores nas áreas residenciais, comerciais e institucionais, além de participações em diversas mostras desde o início de sua carreira! Em sua recente passagem por Maringá, o que seria um breve café com a redação da WIT, se tornou um papo de horas, a primeira das muitas evidências que mostram a beleza e o tom inconvencional dessa profissional com quem vale a pena estar.
TEXTO VINÍCIUS LIMA FOTO DANIEL KATZ
[WIT] Vamos começar pela parte mais difícil? Defina sua arquitetura.
[SB] Minha arquitetura é, antes de mais nada, uma ferramenta de transformação de vidas, para mim cada projeto é único e com personalidade própria. Uma de minhas premissas é captar dos clientes sua essência, expectativas, necessidades, seu budget para o projeto e, sobretudo, as diversas possibilidades de expressar arquitetonicamente essa singularidade. Antes de projetar é necessária uma imersão nessa individualidade. A arquitetura para o cliente tem que ser atemporal e sintetizar um estilo de vida! Seja qual for o projeto, sustentabilidade, fluidez, conforto e aconchego são aspectos fundamentais. Naturalmente, com os anos, são muitas histórias, muitos desafios e com a experiencia você tem um olhar que permite antecipar soluções. Acabei desenvolvendo alguns traços e características que são peculiares e importantes para o meu trabalho, que de certa forma o identifica. Ter formação em duas áreas que se complementam me fez desenvolver uma forma de projetar que pensa simultaneamente do todo ao detalhe.
[WIT] Na prática, como que se materializa em um projeto os gostos do cliente junto da sua própria concepção de projeto ideal?
[SB] Sou uma arquiteta que ouve muito o cliente. Tento trazer para o projeto todos os pontos fundamentais para ele, gosto de trazer algo que possa ser identificado como exclusivo. Na minha forma de trabalhar, os projetos passam pelas etapas e vão sendo depurados e neste processo o cliente participa. Muitas vezes eles fazem novas solicitações, alterações e juntos vamos analisando e definindo o que é melhor para o resultado final. Não sou de impor soluções, apresento sempre alternativas técnicas e estéticas, do que seria mais adequado, mas a definição final é dele. Se não chegamos a um ponto comum, retomo a busca por uma alternativa, mas nunca abro mão de soluções adequadas, harmonia na composição, criatividade. Outro fator que acredito ser fundamental e que ajuda nesta integração é o fato de que realmente gosto de estar no canteiro de obras. É fundamental para mim essa vivência, ver a obra sair do papel e se materializar. Estar lá na definição dos pormenores e imprevistos que surgem em toda a obra.
[WIT] Além de projetos monumentais, de mais de 3 mil m2, encontramos muitos projetos de reforma em seu portfólio. Você gosta também dessa área?
[SB] AMO! Alguns clientes, que me conhecem há alguns anos, brincam dizendo que eu adoro quebrar uma parede (risos). Na verdade, o que realmente me motiva é a transformação de um espaço opressor, abandonado, desatualizado, a uma nova arquitetura. Ampla, iluminada, integrada, auto suficiente, aconchegante, um espaço que traga o bem estar. Acredito que devemos sempre buscar uma arquitetura sustentável, e isto deve ser eficiente em todo o ciclo de vida da edificação, da construção, uso, manutenção a demolição. Com a reforma você traz as edificações para um novo tempo! E sempre surpreendem positivamente os clientes! Há casos, e não são poucos, em que investir tempo, dinheiro e paciência em uma boa reforma gera resultados incríveis, que garantem personalidade, conforto e uma nova vida aos espaços. A reforma realmente é um nicho do meu trabalho que tenho muita satisfação em realizar.
[WIT] O verde também está muito presente em suas obras. Você julga fundamental?
[SB] Quando preciso me reconectar, adoro ir para lugares tranquilos, com muito verde, luz, natureza... Isto me traz energia! Espaços urbanos que de algum modo se integram e valorizam a natureza tem se tornado cada vez mais requisitados. O verde passou a ser um elemento fundamental na vida urbana. Há anos em todos os meus projetos, não importa o dimensionamento dos espaços, sempre existe grandes ou pequenos refúgios. Em meus projetos, unir áreas internas e externas com grandes aberturas transparentes que propiciam a passagem de luz e mesclam a natureza ao espaço é um traço marcante. Ter esta conexão com a natureza, seja em qualquer escala, para mim é fundamental.
[WIT] O próprio cenário global atual tem mostrado como os espaços afetam nossas vidas, não é mesmo?
[SB] Sim... há anos estamos caminhando para um resgate da arquitetura humanizada. A pandemia impulsionou e conscientizou o mercado arquitetônico ainda mais sobre este aspecto. As pessoas tiveram a percepção do quão estar em um espaço bem projetado, afeta o seu bem estar, no trabalho ou em casa. Neste período descobrimos novas necessidades, cômodos subaproveitados, e ambientes que necessitam de mais conforto. Em termos de arquitetura, os aspectos de conforto ambiental como boa entrada de luz natural e ventilação cruzada passa a ser mais valorizado. O setor está super aquecido com reformas, adequações e construção porque, de uma forma ou de outra, todos estão buscando soluções, as mudanças estão acontecendo na maneira como vivemos o lar. Com a nova realidade imposta pela necessidade do “fique em casa” a prioridade e relevância de alguns espaços mudaram. A partir deste novo tempo, a casa deve ser vivenciada no todo, sem espaços secundários, ser bem setoriza, adequada para diversos usos como do trabalho home office, adequação dos espaços de convivência da família e incluir formatação do ambiente para as crianças. Espaços obsoletos e casas dormitório tendem a realmente acabar. A nova arquitetura, acredito que fará mais sentido ser projetada a partir das atividades da casa, como trabalhar, comer, dormir, se divertir... Agora, a busca será por espaços híbridos com multiuso.
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